O SIGNIFICADO DA PINTURA DO PRESBITÉRIO

O Painel tem seu fio inspirador na clássica Cruz de São Damião. Jesus ocupa o eixo central de toda pintura. Toda estrutura de fundo ao Cristo remonta a tons de cores de terra e tem a incumbência de indicar aos que contemplam a sua pequenez diante de Deus e lembrar-nos das soadas palavras do Livro de Gêneses: “ Lembra-te que és pó e que ao pó hás de voltar”. (Gêneses 3,19).

O painel iconográfico apresenta o Cristo Crucificado e destaca o alto da Paixão de Nosso Senhor.

O Cristo é apresentado na Cruz, de corpo inteiro, sobre uma estrutura geométrica em degradê vermelho. A dominância do vermelho reflete o Martírio e o fio de esperança que permeou toda marcha do povo de Deus, tendo o seu auge no Calvário de Cristo que derrama seu sangue em favor de nossa redenção.

O Cristo na Cruz, mostra-se já ressuscitado, em seu lado direito já se encontra a “perfuração”.

Detalhe que na lógica bíblica é pós morte de Cristo na Cruz.

O Cristo ressuscitado na Cruz é o grande regente da vida, por conseguinte, trata-se d’Aquele que preside tudo, especialmente a Sagrada Liturgia. Neste ícone mora todo o Mistério Pascal. Suas mãos e pés “chagadas” mostra-nos que por nós Ele fora sacrificado e que morreu por expiação as nossas culpas. Seus olhos “abertos” expressa a ressurreição, o Cristo olha para as pessoas que Ele salvou.

Observem a solenidade do Cristo, seu rosto, seu olhar. Significa precisamente a presença viva do grande protagonista da liturgia e da igreja. Somos presididos por alguém que está vivo. Envolta a cabeça do Cristo destaca-se uma auréola, está dividida por partes, formando as hastes da Cruz. Acima da auréola, haste vertical, a inscrição em latim; INRI, que significa: Iesus Nazarenus Rex Iudaerum. Em língua portuguesa: Jesus Nazareno Rei dos Judeus.

Além, nos limites da haste horizontal da Cruz, estão; o “Alfa” e o “Ômega”, que corresponde a primeira e a última letra do alfabeto grego. Numa tradução literal corresponde a letra “A” e “O”. Numa tradução adaptada, a letra “A” e “Z” em alfabeto de língua portuguesa. Estas letras são tradicionalmente usadas na Igreja e traduz a expressão bíblica de Apocalipse 22,13 “Eu sou o Alfa e o ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim”.

A Cruz é fincada no meio de um campo de trigo. Campo que amadurece, dourando o cenário central iconográfico. O trigo, a fazer referência a espécie do pão, Corpo de Cristo, doado voluntariamente na Cruz, memorado por nossa comunhão, transubstanciado e celebrado nesse Espaço Litúrgico.

A Cruz, madeiro destacado no centro deste espaço: é a plenitude do próprio mistério pascal, que passa pela cruz e comina com a ressurreição. A Cruz, é a reconstrutora do relacionamento filial perfeito com o Pai, um dia quebrado por Adão.

Pela encarnação, Jesus, em seu plano redentor, rebaixa-se, torna-se servo, percorre o caminho do amor, humilha-se até a morte de cruz, a mesma cruz que, assim, se torna “a nova Árvore da Vida”. O céu se abre à figura do Cristo, ascendente. Do alto, a mão direita do Pai acolhe seu filho unigênito na glória celeste.

Aos pés da Cruz, em seu lado direito em destaque, na base inferior do painel está um; Galo e uma Fogueira.

O Galo (extraído da Cruz de São Damião), é o símbolo da vigilância e do chamamento. Enquanto o homem dorme, o galo vigia, depois canta três vezes para acordá-lo. Anuncia o emergir do novo dia, chama o homem a um despertar, anuncia o Ressuscitado.

A Fogueira simboliza o Fogo Novo, abençoado no Sábado Santo. Na liturgia, Cristo é esse fogo, que veio limpar o mundo e iluminar decepando o breu do pecado. Este fogo ilumina a vida do cristão, para que ele não caia na desesperança.

“Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas possuirá a luz da vida”. Jo 8,12.

Aos pés da Cruz, em seu lado esquerdo, encontra-se São Francisco de Assis, de joelhos, adora e contempla todo Mistério da Salvação.

São Francisco é mostrado em seu hábito tradicional, de coloração marrom, e de rins cingidos pelo cordão dos votos de pobreza, castidade e obediência. Votos que homens e mulheres encontram para pertencerem totalmente a Deus e aderirem amorosamente ao projeto do Reino anunciado por Jesus. A cor marrom do hábito; é uma composição de vermelho, azul, verde e contém preto. Esta cor reflete a densidade da matéria; falta dinamismo e irradiação de outras cores. Assim encontramos o marrom em tudo que é terreno. Por ser assim, na iconografia é: a cor símbolo da humildade, da renúncia às alegrias da vida terrena e da pobreza.

São Francisco traz também consigo os estigmas, aqui visível nas mãos. Estigmas que fora crucial na vida mística deste Santo, que pois como caminho e meta; a busca em viver o evangelho, fazendo de sua experiência de vida, uma identificação com o próprio Senhor Crucificado.

Nas laterais ao crucificado, estão: dois incensórios. Um do lado esquerdo e um do lado direito. Estes, trazem resinas e ervas aromáticas sobre carvões acesos purificando o ar do espaço sagrado onde acontece as celebrações eucarísticas. O incensar promovido por estes, destina-se unicamente a Deus e nesta iconografia simboliza a nossa adoração e oração, fazendo jus as palavras proferidas pela Salmista: “Suba a minha oração como incenso à tua presença, minhas mãos erguidas como oferta vespertina!” Salmo 141-2.

Grande parte da composição desta obra iconográfica é uma adaptação inspirada na venerada Cruz de São Damião, relíquia da Arte iconográfica levada ao mundo pelos franciscanos. Embora tenha tomado liberdades artísticas de adaptação, acredito que o desenho esteja fiel aos gestos, traços e movimentos sem violação de sua íntegra intenção sacra e evangélica.

Por fim, que esta iconografia semeie no coração dos que contemplam a obra todo Mistério contido na mesma. Que o Cristo Jesus, sempre presente em sua igreja, especialmente nas ações litúrgicas, presente no sacrifício da missa, na pessoa do ministro, nas espécies eucarísticas, nas palavras que ouvimos e salmodiamos e em tudo que visualizamos através desta ARTE, traga-nos a graça neste “Lugar de Encontro” e sintamos mais próximos de Jesus, fonte inesgotável de vida e iluminados por Ele que é Luz do Mundo.


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